Quando vires os teus olhos a verem-te, quando não souberes se tu és tu ou se o teu reflexo no espelho és tu, quando não conseguires distinguir-te de ti, olha para o fundo dessa pessoa que és e imagina o que aconteceria se todos soubessem aquilo que só tu sabes sobre ti.

José Luis Peixoto

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Solta o cabelo, meu amor!

"Quando te conheci andavas sempre de cabelo solto. Tinhas um cabelo bonito, meu amor, loiro e liso, sempre com um cheiro a camomila e a alfazema, que eu bem me recordo. (...) Quando a vida nos juntou – para sempre- lembro-me daquele novo primeiro beijo, de mergulhar as mãos no teu cabelo como se estivesse em casa, ao fim do dia, a mesma sensação de descalçar os sapatos, de regresso a casa. Depois de sermos pais, os cabelos passaram a andar presos, porque a Ana tos puxa, porque precisas de mudar fraldas, de dar banhos, cabelos longe dos olhos, presos num rabo-de-cavalo, numa trança, o mesmo cheiro a camomila e alfazema, mas presos, apanhados na teia do quotidiano com filhos, da maternidade que se quer sem embaraços, logo os teus cabelos, meu amor, potros indomáveis.(...)
De caminho te peço: soltas o cabelo, meu amor?"