"No Norte quando se ama, acaba tudo. Começa tudo. Nunca mais
esqueceremos. No Sul nada acaba de repente, há mais maneiras, uma forma
diferente de nos encontramos e de nos deixarmos. No Norte somos todas
rapazes. Há um brio qualquer, uma razão secreta para não haver
cavalheirismos. Somos iguais e então é uma guerra. No Sul que parece tão
fácil é sempre tudo mais difícil. Se nos arrebatam, estamos doidos, se
somos nós a arrebatar, estamos doidos. É assim e eu sei que não é por
mal. No Norte matamo-nos, matamos, fazemos um pé-de-vento, há sempre
confusão nas estações de comboio. E bêbedos, muitos bêbedos. Metade
delas, das bebedeiras, por causa deles. Dos amores partidos. No Norte,
uma senhora tem sempre um rasgo de aventura escondido no peito, o Norte é
duro, torna-nos duros e desvairados quando amamos. No Norte ama-se
tudo, a família tonta, os ricos e os pobres são histórias que se contam
casa sim e casa não. No Norte, onde tudo importa, tudo se aceita.
Comem-se tripas. Mas no Sul não. No Sul apaixonamo-nos mais vezes e
quando damos conta fomos levados. É do calor. E não era assim tão
importante. Quando, no Sul, um amor nos arranca do chão, esse é o único.
E lembramo-nos do Norte: violento e terno, como todos os grandes
amores."
Porque nunca, tanto como aqui, me fizeram ver que sou uma mulher do Norte.
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